Deixa eu contar uma breve história para vocês, daquelas que começa com um bom...
Era uma vez...
Uma menina que um dia se viu mulher.
No outro dia se viu mãe de uma princesa.
Ela estava na faculdade, e com a ajuda de muitas pessoas continua
estudando mesmo com um baby em casa. Seis meses depois do nascimento de sua
filha ela começou a trabalhar, além de estudar.
Como se não fosse bastante ela resolve virar colunista
colaboradora de um site feminista e fazer um blog sobre a filha dela.
Acontece que essa menina-mulher achava que não daria conta de
tudo, mas ela tá dando.
Mesmo com todas as expectativas negativas a respeito
dela, ela continua lá, firme e forte.
Balança, mas não cai.
E se cair, ela
levanta, porque agora o motivo de tudo que ela faz é muito maior.
Primeiro trabalho na área de estudo, que nervosismo. A menos
valia que sempre aparece no coração dessa mulher bateu forte, e ela achou que
não se sairia bem. O tempo mostrou o contrário. Olha onde ela tá, viajando para
trabalhar num evento de grande porte. UAU.
Nem ela imaginaria tamanha sorte. O
nome dessa mulher (que quer dizer “Aquela que veio para ter sorte”) tem que
chegar junto de vez em quando.
E mesmo com toda a euforia do convite veio o medo. “E Sarah?”
Ela pensou.
“Não vou viajar. Ela não vai aguentar. Vai chorar e sentir
muito a minha falta.”
“Não se preocupe menina, tudo vai dar certo”. Diziam uns.
Outros falavam que poderia ser arriscado. Mas depois de muito pensar ela decide
que vai.
Muita conversa com sua princesa para que ela entenda “que mamãe
volta, não vai fugir e nem te abandonar, ok?”.
OK.
Com ajuda das vovós e do papai, passagem na mão, um frio na
barriga e lá vai ela com sua mala (emprestada por sua professora querida)
laranja fosforescente aeroporto afora.
Uma pessoa falante do seu lado, música alta nos fones e um
coração miúdo no peito.
Chega ao hotel e vai direto para o escritório. De vez em
quando sai e liga para sua mãe.
“Como ela tá?”
“Ótima Naila, vai trabalhar. Não
te preocupes, vai dar tudo certo.”.
Volta ao escritório e abre o celular para ver umas fotos... “ahh
que saudades já agora”.
Primeira noite desmaia na cama. 4 horas depois já está acordada,
volta ao evento.
Trabalho duro e cansativo, mas experiência única.
“Oi. Tudo bem? Como ela passou a noite? Me chamou muito?”
“Deu uma choramingada, mas não te chamou não.”
“Não?!”
“Não.”
“Ok. Obrigada. Manda beijo pra ela. Tchau.”
Essa menina que agora está com os olhos cheios de lágrimas vê
que sua pequena é mais forte que ela. Não precisava se desesperar, vai dar tudo
certo. Na verdade, já deu.
Mais um dia longo. Mais ligações e muitas fotos de Sarah
feliz e sorridente.
Sarah no parque com um bebê que virou amiga. Sarah passeando
com o pai. Sarah dormindo, comendo, tomando banho. Em nenhum momento ela deixou
de saber como a Sarah estava.
Essa mamãe sofreu mais que seu bebê.
Mais três noites se passaram.
Segunda-feira, 6 horas da manhã. Após pegar o avião, contar
cada segundo para ver a nenê mais amada do mundo, enfim chega o momento.
Ela tenta subir as escadas da portaria correndo, mas não dá.
A mala parece que voltou mais pesada (e de fato voltou). O elevador para variar
não está no térreo.
Ele chega e ela entra até o quinto andar. Sente o mesmo frio
na barriga que tinha sentido 5 dias atrás. Agora o motivo é outro, e vou
confessar, esse era muito melhor.
Não encontra a chave. Toca a campainha.
Sarah olha para ela. Ela olha para Sarah.
Sarah ri e chora.
Ela? Ela só agarra e beija muito as bochechas, barriga, coxas, braços, tudo de Sarah.
A saudade é algo que não passa com o tempo, só aumenta.
5 dias longe de Sarah para essa jovem mãe foram uma
eternidade.
Mas agora a eternidade é outra.
É hora do denguinho de mãe e filha.
Porque mamãe chegou amor, pode ficar tranquila. Mas ela já
estava. Afinal a mamãe disse
que ia voltar logo, logo e ela entendeu isso.
Na verdade, agora quem pode ficar tranquila é a mamãe. Manteiga
derretida do jeito que é....
Naila Agostinho